quinta-feira, 23 de junho de 2011

Foucault: Dividir para unificar.

O Estado divide o poder em diferentes instituições para autenticar o seu próprio poder. Diferentemente dos contratualistas, Foucault acredita que o poder não se concentra nas mãos de um soberano como um objeto a ser tido por alguém, mas como uma relação de dominação a ser exercida por alguém e que pode ser burocratizada, ou seja, dividida entre diferentes instituições, criando uma grande rede de poderes, centralizada no Estado, garantindo a ordem.
                Antes, a morte era usada pelo Estado para afirmar o poder do soberano, mas na atualidade, houve o desenvolvimento do Biopoder, que valoriza a vida acima de qualquer coisa e gera o Estado mínimo garantindo as condições básicas de sobrevivência dos indivíduos em uma política da longevidade, “fazer viver e deixar morrer”. O biopoder, além de garantir a vida, gera uma sociedade de controle através da dominação sutil que as instituições ligadas ao Estado têm sobre os indivíduos.
                A dominação passa tão despercebida que as pessoas se acostumam a dar satisfações a desconhecidos e gostam disso, fazem questão de mostrar o quão corretas são suas atitudes e até participam de programas como o “Big Brother Brasil” e das redes sociais, comentando suas vidas com desconhecidos normalmente. O poder deixa de ser opressor e passa a construir o indivíduo pessoalmente dentro de uma lógica disciplinar.
                Essa lógica disciplinar desenvolve o sistema capitalista, há uma racionalização de todas as atitudes dentro das instituições, por exemplo, a divisão do tempo dos trabalhadores em 8 horas de descanso, 8 horas de trabalho e 8 horas de lazer, que são dominadas pela lógica consumista. Cada indivíduo seguindo a disciplina dá origem a uma sociedade disciplinar, obediente a todas as regras de todas as instituições ligadas ao Estado. É preciso lembrar que essa disciplina é diferente da moral cristã, que julga atitudes certas e erradas. Ela cria indivíduos passivos e dóceis. As regras da sociedade disciplinar exigem controle de tempo, espaço, vigilância constante e gera conhecimento. Dentro de uma escola, por exemplo, os alunos passam cerca de 8 horas estudando (controle de tempo) em uma sala de aula (espaço), vigiados por um professor (estrategicamente colocado de frente para os alunos), que ensina o que os estudantes devem saber para viver em sociedade. Dessa sociedade disciplinar é que surge o biopoder já citado.
                De toda forma, o Estado controla pela vida, seja em um regime absolutista em que o soberano mandava matar os súditos que fossem contra a sua vontade ou em um regime democrático como o em que vivemos no qual o governo se coloca responsável pela manutenção da vida e, através de diferentes instituições, mantém a ordem do sistema e garante seu poder através da lógica de dividir para unificar.

Capitalismo: a roda-viva

O sistema capitalista nasceu dentro do feudalismo através do crescimento da burguesia e do desenvolvimento do lucro. O lucro é a maior crítica dentro das teorias marxistas devido à forma como ele é gerado, através da exploração do homem no sistema capitalista. Para Marx os trabalhadores encontram-se alienados pelo trabalho e pela indústria cultural, enquanto as empresas, controladas pelo próprio homem, adquirem cada vez mais lucros, comprovando a teoria da “exploração do homem pelo próprio homem”.
Exemplos comprovam a teoria, como o conhecido caso da empresa asiática Foxconn, situado em Taiwan. A empresa é conhecida por fabricar componentes eletrônicos para grandes multinacionais da área de tecnologia, como a gigante e mundialmente conhecida Apple, e é acusada de submeter seus trabalhadores a terríveis condições de trabalho, sendo tal exploração associada aos diversos suicídios que são cometidos por funcionários da empresa. Acredita-se que os suicídios foram conseqüências de uma jornada de trabalho de 15 horas, além das horas extras, sendo pago um dólar por cada hora trabalhada.
Tal exemplo extremo mostra a geração de uma mais-valia absurda que move a roda do capitalismo: quanto mais o trabalhador produz, mais ele gera lucro e mais alienado ele fica, sendo impedido de lutar pelos seus direitos trabalhistas, já que passa tempo demais produzindo para pensar nisso e, dessa forma, a revolução não acontece. Além disso, o trabalhador mediano tem medo de largar seu emprego, pois haverá uma fila interminável de pessoas querendo sua vaga.
Ainda sobre a roda do capitalismo, Marx previa, logicamente, o fim desse sistema de forma natural, pois ele se esgotaria e não conseguiria se sustentar, a crise financeira e econômica faz parte de um ciclo dentro do sistema, porém, o velho barbudo não contava com o neokeynesianismo, que fez com que o Estado salvasse a economia, investindo trilhões nas empresas privadas para que elas não falissem, como no caso da última crise norte-americana, mantendo a sistema quase inalterado e pronto para continuar sua exploração e geração de lucros até a próxima crise causada por excessos de produção e falta de gente para consumir.
Enfim, os exemplos aqui apresentados só vêm reafirmar e exemplificar a visão de Marx perante o capitalismo, mostrando como a roda viva do sistema responsável por inúmeros males dentro da sociedade nunca pára.

domingo, 12 de junho de 2011

Os donos da informação

Pessoal,
 O texto que segue abaixo é uma colaboração ao nosso blog, portanto não faz parte do conteúdo das nossas aulas e NÃO DEVE SER COMENTADO PARA A AVALIAÇÃO. Ele foi escrito por Juliana Westmann Del Poente, aluna de gestão de políticas públicas da USP. É resultado de uma atividade acadêmica, e sendo assim enriquece nosso blog com um assunto o qual nós do jornalismo estamos um pouco habituados... A comunicação, ou mais especificadamente, o oligopólio dela!


  Em 1976 a UNESCO criou uma comissão internacional para estudos dos problemas da comunicação e esse trabalho resultou em um relatório chamado Um Mundo e Muitas Vozes, também conhecido como o Relatório Mc Bride. O texto conclui que a comunicação constitui um direito fundamental tanto do indivíduo quanto da coletividade, que deve estar garantido a todas as comunidades e a todas as nações.                                                                                  
  
  A Constituição Federal brasileira vai de encontro ao relatório internacional Mc Bride e nos assegura o direito de comunicação. No Artigo 5º- que descreve a igualdade de todos perante a lei – em seu Inciso IX podemos verificar tal premissa: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
  
  Infelizmente a liberdade de comunicação no Brasil está restrita a um seleto grupo de pessoas. Hoje sabemos que 11 famílias são donas de 80% de todos os veículos de comunicação. Essa situação fere o artigo 220, Inciso V da Constituição que prevê que “os meio de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.”
   
  O oligopólio midiático no Brasil não tem limites. Os quatro maiores grupos da mídia, que coincidentemente representam os quatro canais televisivos mais influentes (Globo, SBT, Band e Record) controlam juntos 843 veículos de comunicação, entre emissoras de tv, rádios AM e FM, revistas e jornais espalhados por todos os estados brasileiros. Outro fato a ser destacado é o número de políticos sócios de veículos de comunicação, 271 políticos em exercício do cargo são donos ou sócios de algum meio de comunicação.
  
  Esse oligopólio acaba por construir uma barreira para a liberdade de comunicação, garantindo que a informação seja selecionada e transmitida segundo a visão dessa elite que rasga a constituição como se rasgasse um papel de rascunho.

  A constituição prevê ainda o tipo de conteúdo a ser transmitido. O Artigo 221 prevê que: “A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: Inciso II: promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação.”   

  Fica obviamente explícito que a grande parte das emissoras de rádio e TV não cumprem com esse artigo. Cultura e produção independente representam a menor parte dos conteúdos transmitidos.

  O quadro se torna mais grave sabendo que 49% dos brasileiros assistem mais de 3 horas de televisão por dia, e consequentemente usam esse meio para formar seus princípios e valores. Não estamos só desvalorizando a Constituição, estamos homogeneizando de acordo com a visão de uma elite poderosa e controladora opiniões, valores e hábitos de uma população acrítica que enxerga na TV a verdade universal.
  
  Quando será que a Constituição será respeitada e os direitos de comunicação garantidos? Quando conseguiremos garantir pluralidade e diversidade dos meios de comunicação? Apenas quando a vontade de constituição transcender a vontade de poder dos donos da informação.


sexta-feira, 27 de maio de 2011

O Exército Americano

A liberdade do ser humano é uma das questões mais debatidas na sociedade atual. Mas essa discussão é mais longa do que se pensa. Um dos mais famosos e respeitados pensadores do século XVIII, Jean-Jacques Rousseau, já discutia a liberdade, tomando o assunto como um dos principais objetos de seus estudos.
Rousseau acreditava que o Estado deveria garantir o bem comum através das leis e os indivíduos, em troca, deveriam proteger o Estado, através de um contrato social, no qual eles abdicam de sua liberdade para exercer uma servidão coletiva.
Para exemplificar os conceitos de contrato social e servidão coletiva, podemos citar o exército americano devido à não obrigatoriedade do exercício. Como no Brasil, o serviço é obrigatório, esse conceitos não são aplicáveis.
O exército americano funciona da seguinte maneira: é livre. Os cidadãos, a partir dos 18 anos, podem candidatar-se para servir seu país de maneira remunerada. No entanto, caso haja alguma emergência, os jovens são intimados. Sendo assim, a liberdade individual de cada um é preservada.
            La Boetie argumenta em seu texto “Servidão Voluntária” que as pessoas servem por costume. Elas são ensinadas desde pequenas a obedecer sem questionamento, seja os pais em casa ou os professores na escola e, quando atingem a idade adulta, o exército.
            No âmbito individual, Rousseau argumenta que o ser humano é naturalmente bom e sempre busca a perfeição, a honra e a glória, no caso do Exército, através da guerra. Assim, concluimos que a servidão voluntária tem também um objetivo pessoal, além da proteção do Estado.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Príncipe Basco

O grupo armado Euskadi Ta Askatasuna (ETA) - em português, Pátria Basca e Liberdade - busca há anos a independência do país Basco, que atualmente pertence à Espanha. Suas lutas se baseiam nas diferenças lingüísticas e culturais do povo Basco. Este movimento é análogo ao príncipe de Maquiavel e, segundo seu texto, “os principais alicerces de qualquer Estado (...) consistem nas boas leis e nos bons exércitos”; no início, o grupo terrorista só utilizava a força como arma para conseguir seu fim, mas a resistência à violência pelo povo era grande demais. Agora, ETA explora a via política para ganhar uma maior aceitação da população e a oportunidade de legitimação dos meios para conseguir alcançar seu objetivo.
Para ser príncipe devemos passar por cima de tudo e todos. Desconsiderar os inimigos e não medir forças para enfrentá-los. E é a partir dessa filosofia que o ETA tem seguido sua história política. Fundado em 1959 por estudantes nacionalistas devido ao desentendimento com o partido nacionalista Basco (PNV), que era comandado por conservadores da época, o ETA tenta chegar ao poder através do uso da força e de constantes ataques terroristas, absorvendo parte da teoria maquiavélica de que um príncipe deve ser mais temido do que amado, mas esquecendo que o excesso de uso da violência acarreta no enfraquecimento da popularidade do líder. Atualmente, o grupo encontra-se isolado e enfraquecido, uma vez que perderam grande parte do apoio que tinha e passaram a receber críticas de todos os lados, outro fator que acarretou no enfraquecimento do grupo foi às diversas prisões realizadas a líderes e membros do ETA, que teve de passar por diversas mudanças internas.
O povo basco, desde o principio da formação dos Estados, luta por independência em seu território, porém, o governo oficial espanhol não a permite, o gerando conflitos  que duram décadas, desde antes da ditadura franquista. Maquiavel diz que a questão política é o resultado de forças, proveniente das ações concretas dos homens em sociedade. Nada é estável, diz ele. O espaço da política se constitui e é regido por mecanismos diferentes da vida privada. Sendo assim, os comportamentos sociais do povo basco poderiam ser considerados como vida privada, no entanto nada é estável, e o ETA é a prova disso.
O que o grupo terrorista deixa claro é a sua obsessão pela virtù. Eles pensam, planejam e almejam o poder político num novo país, o basco. Sua separação seria o maior exemplo de fortuna do grupo. Suas ações agressivas cessaram por ora, seu comportamento hoje é mais calmo e uma conquista por meios políticos nos traria paz. De qualquer forma, caso o projeto saia do papel, nos lembraremos com carinho do conselho de nosso velho Maquiavel: os fins justificam os meios.

terça-feira, 29 de março de 2011

Início

Somos seis estudantes com o desafio de conectar e entender o cenário político atual com as idéias clássicas de grandes teóricos da ciência política.
O nome do blog surgiu num momento de descontração durante a montagem do mesmo. Nosso grupo inclui dois intercambistas, um americano e uma espanhola, por isso, o ar espanhol presente no título.